Fábrica da BYD em Camaçari terá operação só em 2026 após denúncias e atraso nas obras

O pleno funcionamento da fábrica da montadora chinesa BYD (Build Your Dreams), em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, está previsto apenas para 2026. A informação foi confirmada pelo secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Augusto Vasconcelos, após reunião com representantes da empresa na última semana.
A previsão inicial era que a produção de veículos começasse ainda em 2024. No entanto, denúncias de condições de trabalho análogas à escravidão resultaram no atraso das obras da planta industrial. Em dezembro do ano passado, uma operação do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 163 trabalhadores chineses submetidos a situações degradantes durante a construção da fábrica.
Segundo Vasconcelos, a BYD dará início às operações em 2025, mas em um modelo de produção conhecido como CKD (Completely Knocked Down), em que os carros são montados a partir de peças pré-fabricadas vindas da China. Esse modelo, embora mais ágil, emprega menos mão de obra. A expectativa é de que cerca de mil postos de trabalho sejam criados nesta primeira fase, o que corresponde a apenas 5% das 20 mil vagas prometidas pela montadora.
“O modelo CKD é transitório. A empresa garantiu que adotará essa estratégia enquanto finaliza as obras da fábrica. A nossa prioridade é garantir que a maior parte desses empregos seja ocupada por trabalhadores baianos”, afirmou o secretário.
A estratégia da BYD, no entanto, tem gerado preocupação entre membros do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, que temem que a planta se transforme apenas em um centro de montagem ou distribuição de peças, e não numa fábrica de produção completa. A entidade solicitou uma reunião com os executivos da montadora para esclarecer a situação.
Em nota enviada ao jornal CORREIO, a BYD negou qualquer intenção de manter a planta apenas como centro de montagem e reforçou que o início das operações será em breve. “A operação terá início com a montagem dos veículos em 2025, enquanto a planta avança para a produção completa, com nacionalização progressiva dos modelos mais vendidos no Brasil”, afirmou a empresa.
O investimento total no projeto é de R$ 5,5 bilhões, com capacidade projetada para produção de até 150 mil veículos por ano. Para atender à futura demanda de mão de obra, o governo estadual, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Camaçari, já ofertou mais de 150 vagas em cursos de qualificação profissional.
“Estamos empenhados em qualificar a população local para ocupar os empregos gerados pela BYD. Os estrangeiros são bem-vindos, mas nosso esforço é para que a maioria dos operários, engenheiros e gestores seja composta por baianos e brasileiros”, destacou Vasconcelos.
O atraso nas obras ocorreu após a rescisão do contrato com a empresa responsável pela construção, que está sendo investigada pelas denúncias de irregularidades. A substituição da contratada exigiu a recontratação de uma nova empresa, o que também contribuiu para o adiamento do cronograma original.